Foto: Andrew Medichini/AP
A morte do papa Francisco coloca a Igreja Católica em um período
conhecido como “Sé vacante”. Durante esta fase, o Vaticano dá início aos
preparativos para o funeral do pontífice e para a escolha de um novo
líder.
Francisco tinha 88 anos e ficou 12 anos à frente da Igreja Católica.
Com a morte do papa, agora a Igreja passa a ter uma espécie de
governo temporário. Parte dos religiosos que compõem a cúpula do governo
do Vaticano perde suas as funções, e decisões urgentes ficam a cargo de
um Colégio dos Cardeais.
Durante a Sé vacante, que é o período em que os católicos ficam sem
um papa, o camerlengo conduz os trabalhos da Igreja e prepara a
transição de governo. Ele também ajuda a organizar o Conclave, que
elegerá um novo líder. Atualmente, o cargo é ocupado pelo cardeal
irlandês Kevin Joseph Farrell.
Antes disso, no entanto, a Igreja seguirá uma série de ritos, com destaque para as cerimônias fúnebres de Francisco.
1. Como é feito o funeral?
Após a morte do papa, o funeral é feito seguindo a “Ordem das
Exéquias do Sumo Pontífice”, que é um livro litúrgico que determina como
serão as cerimônias fúnebres do pontífice. As normas foram aprovadas
por Francisco em abril de 2024 e publicadas em novembro do mesmo ano.
O primeiro rito é a confirmação da morte, realizada pelo camerlengo —
o cardeal responsável por administrar a Igreja durante o período de Sé
Vacante. Ele chamará o papa pelo nome três vezes. Se não houver
resposta, o óbito será oficialmente declarado.
Antigamente, esse rito era feito com o uso de um martelo de prata,
com o qual o camerlengo batia suavemente na testa do pontífice. A
prática, porém, caiu em desuso.
Depois da confirmação do óbito, o camerlengo retira o “Anel do
Pescador” da mão do papa, que é destruído com um martelo. O procedimento
simboliza o fim do papado. O quarto do papa também é fechado e selado.
O corpo do pontífice é colocado em um caixão de madeira e levado para
a Basílica de São Pedro, onde será velado. Antes, havia uma passagem
pelo Palácio Apostólico, mas essa etapa foi eliminada pelas novas
regras.
Na Basílica, o corpo do papa será exposto diretamente no caixão, e
não mais de um alto esquife — que é uma espécie de estrado elevado.
Francisco também determinou que o próprio caixão fosse mais simples.
Antigamente, o papa era colocado em três caixões, feitos de cipreste,
chumbo e carvalho. Agora, a urna terá apenas uma estrutura de madeira
revestida por zinco.
Pelas regras da Igreja, o enterro do papa deve ocorrer entre quatro e
seis dias após a morte. Ao contrário de outros pontífices, Francisco
pediu para ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma,
em vez da Basílica de São Pedro.
Missas serão celebradas por nove dias consecutivos, seguindo a
tradição dos “novendiales”, que é um período de luto e oração pela alma
do papa.
2. Quando começa a escolha para o novo papa?
A escolha do novo líder da Igreja Católica começa entre 15 e 20 dias
após a morte do papa. Durante esse período, o Vaticano convoca o chamado
Colégio dos Cardeais, com religiosos do mundo inteiro. Atualmente, 252
cardeais integram esse grupo, incluindo oito brasileiros.
E, desse grupo, 138 cardeais com menos de 80 anos estão aptos a participar da eleição do novo papa, sendo sete brasileiros.
Antes do início da votação para eleger um novo papa, chamada de
Conclave, o Colégio dos Cardeais participa de reuniões chamadas
“Congregações Gerais”. Nesses encontros, os religiosos votam para
decidir questões governamentais da Igreja.
As congregações ocorrem diariamente e começam antes mesmo do fim dos
“novendiales”, período de nove dias de missas em memória do papa
falecido.
Uma das primeiras decisões tomadas nesses encontros é o
estabelecimento do dia, da hora e do modo como o corpo do papa será
levado para a Basílica de São Pedro para ser exposto aos fiéis.
Os cardeais também organizam os detalhes do Conclave e auxiliam na
preparação dos ambientes de votação e dos aposentos para acomodar os
religiosos, além de definir a data para o início da eleição.
3. Quem governa a Igreja neste período?
Após a morte do papa, o governo fica confiado ao camerlengo, que é
responsável pela administração dos bens e do Tesouro do Vaticano.
Atualmente, o cargo é ocupado pelo cardeal irlandês Kevin Joseph
Farrell.
Entre as funções do camerlengo está a organização da transição
durante a Sé Vacante, o período em que a Igreja Católica fica sem um
pontífice. Ele também é responsável por atestar a morte do papa e
assumirá temporariamente o Palácio Apostólico, residência oficial do
papa.
Enquanto o camerlengo mantém a autoridade administrativa, cabe ao
Colégio dos Cardeais discutir assuntos comuns ou inadiáveis da Igreja.
O Colégio dos Cardeais fica impedido de fazer mudanças profundas na
estrutura da Igreja Católica, como a alteração ou correção de leis
determinadas pelos papas.
Além disso, quando o papa morre, quase todos os religiosos que ocupam
cargos na cúpula do Vaticano deixam suas funções, como o Cardeal
Secretário de Estado e os responsáveis pelos departamentos do governo,
chamados de Dicastérios da Cúria Romana.
4. Como funciona o Conclave?
A palavra “conclave” vem do latim cum clavis e significa “fechado à
chave”. É por meio dele que a Igreja Católica elege o novo papa.
Durante os dias de eleição, cardeais do mundo todo ficam fechados
dentro do Vaticano, em uma área conhecida como “zona de Conclave”. Eles
também fazem um juramento de segredo absoluto sobre o processo.
Atualmente, 138 cardeais com menos de 80 anos estão aptos a participar da eleição, sendo sete brasileiros. Veja a seguir:
- Sérgio da Rocha, Primaz do Brasil e arcebispo de Salvador, 65 anos.
- Jaime Spengler, presidente da CNBB e arcebispo de Porto Alegre, 64 anos.
- Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, 75 anos.
- Orani Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, 74 anos.
- Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, 57 anos.
- João Braz de Aviz, arcebispo emérito de Brasília, 77 anos.
- Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, 74 anos.
Todos os cardeais que participam da eleição ficam impedidos de
utilizar qualquer meio de comunicação com o exterior. Ou seja, eles não
podem usar telefones, ler jornais ou conversar com pessoas de fora do
Vaticano. Essas medidas foram adotadas para evitar que a votação seja
influenciada.
As votações acontecem dentro da famosa Capela Sistina. Para ser
eleito, um cardeal precisa receber dois terços dos votos que — são
secretos e queimados após a contagem.
Ao todo, até quatro votações podem ser realizadas diariamente, sendo
duas pela manhã e duas à tarde. Se, depois do terceiro dia de conclave, a
Igreja continuar sem papa, uma pausa de 24 horas é feita para orações.
Outra pausa pode ser convocada após mais sete votações sem um eleito.
Caso haja 34 votações sem consenso, os dois mais votados da última
rodada disputarão uma espécie de “segundo turno”. Ainda assim, será
necessário atingir dois terços dos votos para que um deles seja eleito.
Quando um cardeal é eleito, a Igreja questiona se ele aceita o cargo
de papa. Se ele concordar, o religioso também precisa escolher um nome.
Em seguida, ele é levado para um ambiente conhecido como “Sala das
Lágrimas”, onde veste as vestes papais.
Por fim, o novo papa é anunciado à multidão que aguarda na Praça de
São Pedro. O pontífice é apresentado diretamente da sacada da Basílica,
onde é proclamada a famosa frase “Habemus Papam” (“Temos um Papa”).
5. Quais os significados das fumaças?
Uma maneira tradicional de anunciar a escolha de um novo papa é por
meio da fumaça que sai da chaminé da Capela Sistina. Se for branca,
significa que a Igreja tem um novo pontífice. Por outro lado, se for
escura, uma nova votação será realizada.
A fumaça é resultado da queima dos votos dos cardeais reunidos no
Conclave. Para garantir a cor correta, substâncias químicas são
adicionadas à combustão.
Em 2013, o Vaticano esclareceu que a fumaça escura era produzida por
uma mistura de clorato de potássio, antraceno e enxofre, enquanto a
branca é resultado da queima de clorato de potássio, lactose e
colofônio.
A chaminé responsável pela liberação da fumaça funciona por meio de
um sistema eletrônico, e os compostos químicos ficam armazenados em
cartuchos específicos.
Além da fumaça branca, a eleição do novo papa é confirmada pelo toque dos sinos da Basílica de São Pedro.
G1