
Leandro Lima é o peão Levi na novela Pantanal
O perfil @remakepantanal no Instagram, feito por fãs da novela e que
conta com quase 50 mil seguidores, costuma brincar: "Não é notícia
repetida. Pantanal bate novo recorde de audiência".
De fato, a trama criada por Benedito Ruy Barbosa, levada ao ar pela
primeira vez em 1990, pela extinta TV Manchete, e que há três meses
entrou no ar na Globo em nova versão, tem agradado a antigos fãs e
conquistado uma nova geração de telespectadores, algo difícil de ocorrer
quando se trata de remake de uma obra tão marcante - as novas versões
de Pecado Capital e Ti Ti Ti fracassaram.
Adaptada
por Bruno Luperi, neto de Barbosa, Pantanal não teve seu eixo central
alterado. A saga do peão José Leôncio está sendo contada como foi
originalmente concebida. As lendas, comuns na região, como a da mulher
que vira onça e do velho que toma forma de uma sucuri, ainda envolvem o
público.
Sem se tornar anacrônica, Pantanal
convive muito bem com as adaptações que forçosamente Luperi foi obrigado
a fazer - ele colocou em discussão, a título de exemplo, a ilusão do
mundo em que vivem e atuam os influencers digitais.
"Perfeitamente
adequada aos tempos atuais. Ou seja, Luperi está recontando a clássica
história de seu avô dentro do tempo e espaço do século 21", analisa
Mauro Alencar, doutor em Teledramaturgia Brasileira e latino-americana.
O
autor também avançou em temas que já faziam parte da primeira versão,
mas que ganharam força em um momento em que a sociedade avança no debate
de temas essenciais, como machismo e homofobia.

Maria Bruaca, que continua fazendo sucesso, é agora interpretada por Isabel Teixeira
Se em 1990 a namorada preterida por Jove, tomada pelo desejo de
vingança, espalhou que o jovem era "bicha", em 2022 o ato se resumiu a
um textão nas redes sociais, em forma de desabafo. O mesmo personagem,
chamado de "frozô" pela peonada da fazenda do pai por não comer carne e
ter medo de montar a cavalo, ganhou defesa veemente da amiga Guta e da
quase madrasta Filó. A mesma Guta enfrenta o pai - que tem atitudes
machistas e autoritárias com a mãe, Maria Bruaca.
Personagens
Em
1990, Juma, a menina selvagem, "filha da onça", ganhou as manchetes de
jornais e revistas. O trabalho da atriz Cristiana Oliveira, então
iniciante, rendeu elogios. Seu olhar ao sair do rio lembrava, de fato,
uma onça. Entrou para a galeria de personagens da telenovela brasileira.
Atualmente,
Juma, interpretada por Alanis Guillen, divide a atenção do público com
os peões Levi (Leandro Lima) e Tadeu (José Loreto), a resiliente Filó
(Dira Paes), a misteriosa Muda (Bella Campos), a contestadora Guta
(Júlia Dalavia) e a dupla Maria Bruaca (Isabel Teixeira), personagem que
ganhou o apelido de Mary Bru entre os fãs, e o capanga Alcides (Juliano
Cazarré).
Se antes as capas de revistas
repercutiam os personagens, agora são as redes sociais que fazem deles o
assunto da noite. Não é raro que seus nomes apareçam entre os mais
comentados do Twitter já na exibição do capítulo.
Para
Alencar, o fascínio por toda a gama de personagens criados por Barbosa
em Pantanal sempre existiu. "Na primeira versão, Guta, Bruaca e Muda,
entre tantos outros, também fizeram sucesso. É que, à época, Juma era
totalmente desconhecida e, com características fora do comum, catalisou a
atenção da mídia na interpretação de Cristina Oliveira."
Para
Guilherme Bryan, coordenador do curso de pós-graduação em
Teledramaturgia do Centro Universitário Belas Artes, a grande mudança
entre os protagonistas é o fato de José Leôncio (Marcos Palmeira) e o
Velho do Rio (Osmar Prado) serem interpretados por atores diferentes na
versão atual.
"Embora ambos estejam muito bem
em seus papéis, Cláudio Marzo (na versão original) teve um excelente
desempenho. E o fato de ser o mesmo ator levantou ainda mais dúvida
sobre quem de fato era a figura do Velho do Rio", adverte.
Se
na primeira versão os telespectadores eram apresentados a uma natureza
quase intocada, no remake a preocupação com a destruição do bioma nas
últimas três décadas é assunto que, vez ou outra, se faz presente no
texto de Luperi.
Em uma sequência, quando a
personagem Irma volta ao Pantanal depois de 20 anos e prefere chegar à
fazenda de Zé Leôncio em uma chalana, há o seguinte diálogo entre ela e o
condutor da embarcação, Eugênio: "(Hoje) há mais aviação no céu do
Pantanal do que arara-azul", diz ele. "A coisa tá assim nesse nível?",
questiona Irma. "A dona não imagina. Para quem conheceu isso aqui como
eu conheci, ver as lavouras vindo para perto do Pantanal, nosso rio
assoreando, dejetos na água, fogaréu se alastrando. E os bichos,
coitados, têm que se virar sozinhos. (...) Eu amo esse Pantanal, mas
amava mais o de antigamente, quando o tal progresso 'tava' mais longe de
nós."
Nudez
Bryan
destaca que a mudança na paisagem também influenciou algo corriqueiro
na primeira versão: o banho de rio dos personagens. Sim, eles continuam a
existir, mas com um entorno visivelmente mais seco. Outra modificação
diz respeito à nudez que, no passado, funcionou como grande trunfo da
novela para fisgar a audiência. Se na primeira versão houve até nu
frontal, agora as cenas são muito mais sugeridas ou integradas à
paisagem. Isso se deve, é bom ressaltar, à classificação indicativa para
o horário.
Para Alencar, a falta de corpos nus
não atrapalha o desenvolvimento da história. "O que impera na história é
a exuberância da natureza em si. A nudez é uma consequência da
narrativa. Cabe lembrar, também, que a versão original foi ao ar um ano e
meio após o fim da censura no País. E a sociedade clamava por
liberdade", pontua.
Estadão Conteúdo
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