Após queda de casos, Governo diminuiu leitos covid em 73%. Agora, voltará a abrir leitos
Os índices de ocupação de leitos no Rio Grande do Norte voltaram a
subir. No final de semana, no domingo (12), foi registrada taxa de
68,18%, maior índice desde o dia 15 de fevereiro de 2022. O número total
de leitos disponíveis, no entanto, era 73% menor, em razão de muitos
leitos terem sido revertidos para outras doenças. Para especialistas em
saúde, o momento da pandemia requer atenção. A Secretaria de Estado da
Saúde Pública (Sesap) já avalia reabrir leitos de retaguarda.
Atualmente, a ocupação está em 43% em leitos críticos e 23% em leitos
clínicos.
“Fizemos reunião para avaliação dos leitos e vamos retomar e
reverter alguns leitos. Até sexta vamos ter reversão e ampliação de
leitos para aumentar essa retaguarda covid no Rio Grande do Norte”,
aponta Diana Rêgo, subcoordenadora de vigilância epidemiológica da
Sesap. A pasta não tem ainda um levantamento fechado de quantos serão
esses leitos, mas três leitos críticos já foram disponibilizados no
Hospital Giselda Trigueiro, em Natal, e outros três no Hospital Rafael
Fernandes, em Mossoró.
Segundo a plataforma
Regula RN, que monitora em tempo real a situação assistencial do Estado,
os índices vêm apresentando tendência de crescimento desde o fim de
maio. No último dia 12, data da última atualização da série histórica,
eram 30 leitos críticos ocupados num total de 44 operacionais na rede
pública do RN. Em fevereiro, este contingente era maior: 143 ocupações
para um total de 163, taxa de 87,73%. O período em questão foi da
circulação da variante Ômicron, com taxa de transmissibilidade maior que
as demais variantes. Aliado a isso, três hospitais apresentam ocupação
de 100% nos leitos críticos: Hospital dos Pescadores, Rafael Fernandes e
Wilson Rosado.
“Diminuímos bastante a
quantidade de leitos covid, então isso tem que ser olhado com cuidado,
se essa taxa é porque tem muito mais gente adoecendo ou porque a
quantidade de leitos diminuíram. Porque a variante ômicron já não causa
tanto adoecimento, porque temos mais gente vacinada do que antes, e se
realmente ela está causando esse adoecimento maior ou se é porque temos
menos leitos. Isso precisa ser observado. Não vemos ela causando tanta
hospitalização. Não é uma característica da Ômicron e a população está
bem mais vacinada. E quem está hospitalizando são aquelas pessoas que
não estão devidamente imunizadas”, aponta a imunologista Janeusa
Trindade Souto, pesquisadora e professora do departamento de
Microbiologia e Parasitologia da UFRN.
Ainda de
acordo com Diana Rêgo, a secretaria já avalia que o atual momento da
pandemia no RN e no Brasil seja de uma quarta onda da covid. “Avaliamos
que estamos iniciando um aumento de casos que já se configura como uma
possível quarta onda. Começamos a observar esse aumento principalmente
na região de Caicó e Metropolitana e percebemos também alguns óbitos,
principalmente em idosos e que não têm esquema vacinal completo.
Liberamos recomendações das máscaras em ambientes fechados, fizemos
reuniões com as regionais e municípios sobre a importância da testagem
para testarmos em massa a população”, comentou Diana.
O
mais recente Boletim InfoGripe FioCruz, da Fundação Oswaldo Cruz,
mostrou que o Rio Grande do Norte é um dos 24 estados que apresentam
sinal de crescimento na tendência de longo prazo para casos de covid-19.
Entre as capitais, Natal também figura entre 22 cidades com essa mesma
tendência.
O mesmo boletim apontou que há uma
tendência nacional para aumento de casos de covid. Entre as ocorrências
de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) a 69% dos casos nas últimas
semanas foram positivos para covid. Também em relação ao total de óbitos
por vírus respiratórios, o estudo aponta a mesma propensão, 92,22%
foram em decorrência do Sars-CoV-2 (Covid-19). A análise é referente à
Semana Epidemiológica (SE) 22, de 29 de maio a 4 de junho, que registrou
7,7 (6,9 – 8,6) mil casos de SRAG no país.
Recomendações
O
atual panorama da covid-19 no Rio Grande do Norte fez com que o Governo
do Estado, Prefeitura do Natal e outros órgãos adotassem medidas
preventivas para o momento da pandemia. Desde a semana passada, o uso
das máscaras em ambientes fechados tem sido adotados.
O
uso de máscaras havia deixado de ser obrigatório no Estado, em
ambientes fechados, no dia 6 de abril. Em espaços abertos, a proteção já
não era exigida desde o dia 16 de março. Em Natal, a desobrigação do
uso das máscaras vigora desde 09 de março. O uso obrigatório de máscaras
no Estado era desde o dia 07 de maio de 2020. À época, o decreto
assinado pela governadora Fátima Bezerra (PT) estipulava uma multa de R$
50 mil em caso de descumprimento.
“Não é
motivo para achar que tudo que fizemos foi errado, pelo contrário,
observamos um aumento de casos, mas não tem progressão nas mortes,
felizmente. É um sinal que a vacinação funciona. A volta das máscaras em
locais fechados é uma medida prudente pra gente evitar essa
disseminação e velocidade de transmissão”, declarou o imunologista
Leonardo Lima, pesquisador do Laboratório de Inovação Tecnológica da
UFRN (LAIS/UFRN).
bate papo
Janeusa Trindade de Souto
imunologista , professora da UFRN
“Vírus tem um comportamento sazonal”
O que explica o atual momento da pandemia, com aumento de casos não só no Estado, mas no Brasil todo?
Nos
parece que o vírus tem um comportamento sazonal, é o que está
parecendo, não está confirmado. Mas se formos observar, ano passado
tivemos um pico mais ou menos a essa época, com vários casos de covid.
Esse ano estamos tendo novamente agora em maio, junho. A diferença é que
são variáveis diferentes. Ano passado era variante Gama e esse ano é a
ômicron, que é muito mais transmissível, mas não causa tantas
enfermidades, hospitalizações quanto a gama causava. E temos uma taxa de
imunização bem mais avançada do que no ano passado. Temos observado uma
transmissibilidade muito grande e isso se dá também porque as pessoas
deixaram de usar máscaras. Associamos muito a um relaxamento maior no
uso de máscaras que é uma barreira física importante para se evitar essa
transmissão de qualquer vírus respiratório, seja ele Influenza ou
Covid-19. A partir do momento em que as pessoas relaxam mais no uso da
máscara, temos queda de temperatura, as pessoas se aglomeram mais, as
pessoas vão mais para as festas, então temos um conjunto de fatores que
podem ajudar a disseminação maior de vírus respiratórios.
Isso tem resultado no aumento na ocupação de leitos. Estamos com quase 70%. Como analisa essa situação?
É
importante analisar a quantidade de leitos que tínhamos no passado e o
que temos agora. Temos que ter cuidado quando se analisa esse percentual
de leitos ocupados. Diminuímos bastante a quantidade de leitos covid,
então isso tem que ser olhado com cuidado, se essa taxa é porque tem
muito mais gente adoecendo ou porque a quantidade de leitos diminuíram.
Porque a variante ômicron já não causa tanto adoecimento, porque temos
mais gente vacinada do que antes, e se realmente ela está causando esse
adoecimento maior ou se é porque temos menos leitos. Isso precisa ser
observado. Não vemos ela causando tanta hospitalização. Não é uma
característica da Ômicron e a população está bem mais vacinada. E quem
está hospitalizando são aquelas pessoas que não estão devidamente
imunizadas. É outra observação que a gente faz: hospitaliza, sim, mas
aquelas pessoas que não estão imunizadas, ou não se vacinaram ou os que
estão com ciclo de vacinação incompleto. E fica o alerta para as pessoas
buscarem os postos para acessarem à imunização.
Observamos que a ocupação está aumentando. Já é momento para se abrir mais leitos?
Como
está tendo essa pressão, vai ter que abrir mais leitos, porque mais
pessoas podem adoecer. Ou seja, a gente observa uma pressão no sistema
de saúde. A partir do momento que as pessoas começam a adoecer, há
necessidade de leitos.
Tribuna do Norte
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