
Das 33 praias analisadas, 16 estavam impróprias para banho na última sexta-feira. Último relatório apontava 15 praias
As praias da Região Metropolitana de Natal têm o maior índice de
contaminação por coliformes fecais em mais de 20 anos, desde o início da
série histórica do Programa Água Azul. A análise de balneabilidade da
água da segunda semana de julho aponta que, das 33 praias analisadas, 16
estão classificadas como impróprias. Os dados foram divulgados nesta
sexta-feira (15). Na semana anterior, a Região Metropolitana já tinha
batido o recorde da série histórica com 15 praias, subindo mais um
número nesta semana.
Segundo o diretor geral do Idema, Leon Aguiar, o resultado se deve
principalmente às chuvas dos últimos dias: “essa chuva pode ser
comparada a uma chuva que aconteceu somente há 24 atrás, antes mesmo da
série histórica”, revela.
De acordo com Aguiar,
as cidades são “lavadas” pelas chuvas e por isso dejetos podem ser
levados às praias. “Imagine as ruas, os imóveis, as galerias de
drenagem, as galerias de esgoto, tudo isso sendo levado para os rios, e
nossos rios desembocando em nossas praias. Isso faz com que a gente
tenha uma maior quantidade de contaminantes naquele momento”, comenta.
Para
o diretor, à medida que as chuvas reduzem, “você vai tendo uma redução
também daquilo que é levado para os rios do nosso Estado”. Por isso, se
espera que nos próximos monitoramentos o nível de contaminação baixe.
Já
Ronaldo Diniz, coordenador do Programa Água Azul e doutor em Geologia
Costeira e Ambiental, diz que “é difícil prever o futuro. Mas, via de
regra, a gente espera que vá diminuindo”. Segundo o coordenador, porém,
outras variáveis devem ser analisadas. No monitoramento feito pelas
entidades, há duas formas de classificar uma praia como imprópria para
banho, com base numa resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(Conama).
“A resolução diz que o último resultado, se for acima de 2.500
coliformes fecais por 100mL de água, essa praia é considerada imprópria.
Caso contrário, se for acima de 1.000 coliformes, é preciso que dos
últimos cinco resultados, ou seja, as últimas cinco semanas, duas delas
ou mais tenham mais de 1.000 coliformes por 100 mL de água”, descreve.
“Então pode ser na média de cinco semanas ou, se o valor for muito alto,
acima de 2.500, um único resultado, desde que seja o último, já
classifica a praia como imprópria”. De qualquer forma, comenta, “já que
não está chovendo tanto, a tendência é diminuir”.
Das
praias analisadas pelo projeto do Idema, a da Redinha foi a mais
afetada nesta semana, junto com a Praia de Pitangui, em Extremoz. No
levantamento, as duas praias tiveram uma contaminação de 5.400
coliformes totais por 100 mL de água. Na avaliação anterior, da primeira
semana de julho, os números da Redinha, próximo ao Rio Potengi, eram
ainda mais alarmantes: 16.000 coliformes totais por 100 mL de água.
Extremoz
também registrou alta contaminação em outras áreas. Na Redinha Nova
(Tômbolo), a contaminação é de 3.500. Em 16 de junho, como comparação,
era apenas 2 coliformes fecais por 100 mL. A Praia de Graçandu, altura
das Barracas, e a Praia dos Artistas, próximo ao Centro de Artesanato,
são outros locais com a mesma contaminação: 3.500.
O
monitoramento do Programa Água Azul é realizado pelo Instituto de
Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Estado do Rio Grande do
Norte (Idema), em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFRN) e a Fundação de Apoio à Educação e ao Desenvolvimento
Tecnológico do RN (Funcern).
Problema está relacionado com falta de saneamento
Embora
as chuvas dos últimos dias sejam apontadas pelos especialistas como
principal problema para a contaminação elevada, outro motivo pode estar
relacionado aos índices das praias potiguares. Segundo Leon Aguiar, “uma
das explicações mais factíveis desse nível de contaminação foi
realmente a criticidade de chuvas, mas não é só isso que leva a ter um
alto nível de contaminação”.
Para o diretor, há
um lançamento indevido e constante de coliformes fecais das fossas
negras, — um modelo escavado diretamente no terreno e revestimentos —
que são lançados aos rios e mares por meio de ligações clandestinas nas
redes de drenagem.
“Nós temos redes de
esgotamento em algumas regiões, mas infelizmente quando as pessoas
começam a ligar suas calhas ou qualquer excesso de água que tem nos seus
imóveis dentro dessa rede de esgoto, esse esgoto que teria um tempo de
chegar nas estações de tratamento para ser depurado e tratado, acaba
acontecendo o que aconteceu”, comenta. “Começa a chover e começa a ter
mais efluentes chegando até a estação. Isso não dá tempo tratar”.
A
professora Cláudia Maria Gomes é turista de São Paulo e estava
conhecendo a Praia de Miami na manhã desta sexta-feira (15). Ela estava
apenas caminhando pela areia, e pretendia entrar na água, mas não sabia
da contaminação em outros locais de Natal apontada pelo Programa Água
Azul. “Não fui lá ainda, mas não parece [que está contaminada]. Mas se
eu ver, não vou me espantar, não.” Na semana passada, Miami possuía
5.400 de coliformes fecais por 100 mL de água. Agora, caiu para apenas
20 e voltou a ser considerada própria para banho.
Já
o surfista Marcelo Stima estava prestes a entrar no mar e diz que tem
acompanhado a situação. “Eu tenho surfado aqui há uns cinco anos. A
contaminação aqui é proveniente de esgoto doméstico e não saneado.
Normalmente são ligações clandestinas”, afirma.
Segundo
ele, a principal micose que vê é o pano branco. “Mas a gente sabe que
várias doenças podem ser passadas através de coliformes fecais”,
comenta. Para o surfista, a contaminação é “uma ameaça em relação à
exposição a esse tipo de matéria orgânica que não é saudável. Mas
depende da imunidade de cada um”, acredita.
Idema analisa danos ao rio Jaguaribe
O
Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (IDEMA/RN)
vistoriou a área onde está sendo construída a Estação de Tratamento de
Esgotos do Jaguaribe (ETE Jaguaribe), na zona Norte de Natal, cuja
estrutura não resistiu às fortes chuvas da semana passada e provocou
erosão do talude, estrutura de contenção da água, gerando o carreamento
de lama para o Rio Jaguaribe, principal afluente do Rio Potengi. O órgão
autuou a Caern, responsável pelo empreendimento, para que tome
providências quanto ao ocorrido. Segundo ambientalistas, isso provocou
um intenso dano ambiental ao mangue, que poderá não resistir. O
documento também é uma solicitação do Ministério Público do Estado
(MPRN), que aguarda as informações para definir como deverá agir. Apesar
da suspeita do dano ambiental, ainda não há um dimensionamento do mal
que pode ter provocado àquele ecossistema.
A
Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern), explicou em
nota que, na semana passada, “um pequeno trecho do muro caiu com as
fortes chuvas, mas já foi refeito. Também há outra parte do muro que
ainda será refeita, sendo este junto de uma rua projetada pela
Prefeitura. A Caern realizou contenções evitando o carreamento de
material. Também está sendo feita a limpeza do excesso desse barro”.
Segundo
a companhia, a ETE Jaguaribe não está realizando o tratamento de
efluentes porque ainda está em obras. No local, diz que possui uma
tubulação de drenagem provisória. Contudo, essa tubulação não resistiu
ao excesso de chuvas fazendo escorrer lama com material argiloso da obra
para o rio.
Técnicos do Idema foram ao local
e, segundo o diretor do instituto, Leon Aguiar, a primeira providência
exigida pelo órgão foi a contenção do material para evitar que seja
arrastado para o mangue. “Não se trata de nenhum material contaminante,
nem material químico que venha a afetar a qualidade da água.
Momentaneamente a gente viu que há uma dispersão desse segmento dentro
do rio, por isso, a coloração das águas está amarelada. Mas isso ali vai
decantando e o próprio fluxo de maré vai dissipando esse material não
oferecendo um problema ambiental preocupante”, declarou o diretor.
Tribuna do Norte
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