O Ministério da Saúde quer implementar novas tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS). O objetivo é expandir o acesso da população a uma saúde pública cada vez mais universal, ágil e de qualidade. Uma das ideias, por exemplo, é incorporar a inteligência artificial (IA) nos serviços de atendimento à população. Tudo isso seria feito por meio de um programa que ainda está em fase de estudos, o SUS Digital.
“Estamos falando aqui de um cenário novo. O Ministério da Saúde
está desenhando, em uma grande equipe, o SUS Digital, que vem a ser a
inclusão digital em todos os níveis do Sistema Único de Saúde (SUS)
desde a atenção primária [em Unidades Básicas de Saúde, por exemplo] até
a atenção terciária [de alta complexidade, como Unidades de Terapia
Intensiva]”, disse Cleinaldo de Almeida Costa, diretor de Saúde Digital e
Inovação do Ministério da Saúde, em entrevista à Agência Brasil e à TV
Brasil nesta terça-feira (23).
Segundo ele, o
programa deve “repensar o acesso ao SUS por meio de aplicativos ou de
uso de inteligência artificial ou de big data” e “redesenhar a saúde [no
país] para os próximos 20 anos”.
Durante uma
mesa realizada na Feira Hospitalar, em São Paulo, o diretor do
ministério afirmou que o programa pretende transformar o SUS em um
“sistema mais amigável, aproximá-lo mais do cidadão e simplificar a vida
do usuário e da usuária”.
O objetivo do
ministério é que, com o SUS Digital, os diagnósticos possam ser
otimizados, o atendimento na saúde pública seja mais ágil e haja mais
inclusão. “Em primeiro lugar, [o benefício] será a inclusão digital no
SUS. Incluir de verdade, não deixar ninguém para trás. Em segundo lugar,
melhorar a qualidade de vida da cidadã e do cidadão brasileiro por meio
do SUS, de modo que a saúde possa estar incorporada no seu dia a dia,
no seu celular, no seu tablet, reduzir filas, ou seja, aproximar o
sistema de saúde da vida da cidadã e do cidadão”, destacou Costa.
Projetos
Alguns
projetos no Brasil já testam a aplicação da saúde digital em unidades
de terapia intensiva (UTI), experimentos que tiveram início durante a
pandemia do novo coronavírus. E com bons resultados, na avaliação de
Carlos Carvalho, professor titular de pneumologia da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e diretor de Saúde Digital
do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Estamos
com um projeto com o Ministério da Saúde para atender gestantes de alto
risco e puérperas em ambientes de UTI. O ministério selecionou alguns
hospitais. Em 11 hospitais que já estamos atuando, observamos redução de
270 [por 100 mil nascidos vivos] para 140 de morte materna em apenas
seis meses”, estima Carvalho. Esse projeto-piloto deverá ser ampliado de
forma que cada estado brasileiro tenha ao menos um projeto desses em
desenvolvimento.
Outro projeto foi o de TeleUTI
para covid-19, que funcionou por meio de um posto de telemedicina
instalado no Instituto do Coração (Incor). A iniciativa apoiava,
capacitava e treinava profissionais de saúde que trabalham em UTIs. “Na
TeleUTI que fizemos aqui, junto à Secretaria Estadual da Saúde de São
Paulo, até dezembro de 2021, atendemos quase 2 mil pacientes e fizemos
mais de 11 mil atendimentos. E à medida que ampliamos os atendimentos,
foi-se reduzindo a letalidade desses pacientes nessas unidades em que
estávamos atendendo”.
Atraso
À
reportagem, Carvalho afirmou que, durante a pandemia, o atraso
tecnológico brasileiro na área da saúde digital ficou evidente. “Os
estados e o governo federal conseguiram rapidamente aumentar o número de
leitos e de equipamentos [para o tratamento da covid-19]. Mas o que foi
feito pelos governos, de forma geral, foi construir as estradas e
colocar os carros. O problema, no entanto, foram os pilotos. Quem vai
dirigir esses carros? O que ficou evidente é que não tinham
profissionais capacitados para tocar essas UTIs [que foram criadas
durante a pandemia]”.
Com as novas tecnologias,
essa defasagem de profissionais poderia ter sido suprida e ter ajudado a
salvar mais vidas, destacou Carvalho “A telesaúde vem para capacitar
essas pessoas, fazer consultas e teleconsultas. Os estudos iniciais que
fizemos conseguiram demonstrar a redução da letalidade [dos pacientes],
desde que você tenha uma equipe capacitada em uma ponta e outra equipe
minimamente capacitada na outra”.
Desafios
Para
que o SUS Digital seja plenamente implantado no país, o Brasil
precisará melhorar sua infraestrutura de rede. “O que precisamos é
trabalhar muito fortemente a conectividade no nosso país. Existe muita
assimetria ainda em conectividade e esse é um esforço que este governo
se propõe a fazer”, ressaltou Cleinaldo de Almeida Costa, diretor de
Saúde Digital e Inovação do Ministério da Saúde.
Outro
desafio será garantir a segurança dos dados dos usuários que utilizam
esse sistema. “Estamos trabalhando dentro do Sistema Único de Saúde em
uma realidade nova chamada Lei Geral de Proteção de Dados. E é dentro
desse cenário ético que o sistema de saúde vem trabalhando no sentido de
fortalecer a experiência digital da usuária e do usuário e aproximar a
saúde no dia a dia da cidadã e do cidadão brasileiro."
E
não são apenas estes os desafios que estarão envolvidos no uso dessas
tecnologias na área da saúde. Na semana passada, por exemplo, a
Organização Mundial da Saúde (OMS) soltou um comunicado em que disse
estar entusiasmada com o tema, mas pedindo cautela no uso de
inteligência artificial “para proteger e promover o bem-estar, a
segurança e a autonomia humanas e preservar a saúde pública”. Para a
organização, é preciso avaliar cuidadosamente os riscos desse tipo de
ferramentas na área da saúde.
“A adoção
precipitada de sistemas não testados pode levar a erros por parte dos
profissionais de saúde, causar danos aos pacientes, minar a confiança na
IA e, assim, minar (ou atrasar) os potenciais benefícios e usos de
longo prazo de tais tecnologias em todo o mundo”, alertou a OMS, no
comunicado.
A Feira
A
Feira Hospitalar, que começou nesta terça e prossegue até a próxima
sexta-feira (26) na São Paulo Expo, na capital paulista, é considerada o
maior evento de saúde da América Latina e um dos três maiores eventos
da área no mundo. Neste ano, a feira discute o poder das plataformas e o
impacto delas no setor de saúde.
Agência Brasil
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