A deputada estadual Cristiane Dantas (SDD), contrária à taxação da água bruta no Estado, disse em entrevista à Jovem Pan News Natal, que os setores afetados irão analisar os impactos levando em consideração a adoção da medida, porque ainda não existem dados que permitam dimensionar os reflexos. Ela tem encabeçado os debates na Assembleia Legislativa sobre o tema. O titular da Secretaria do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do RN (Semarh), Paulo Varella, afirmou, contudo, que uma minuta resultante de estudos de 2000 e 2009 apresenta os impactos da taxação. Ele esclareceu que, atendendo à premissa de que é preciso gerar o menor impacto possível, colocou o documento para análise entre os produtores.
Crítica da possibilidade de cobrança, a deputada Cristiane Dantas
articulou uma audiência pública no mês passado a fim de convocar a
sociedade e o setor produtivo para debater a temática. “Alguns desses
setores estão muito preocupados com o impacto dessa medida, que gera
muitas dúvidas. Como a agricultura, a cana de açúcar, a fruticultura, a
água mineral e outros segmentos serão afetados? E qual o impacto na vida
dos potiguares? Quando se aumentam os custos de produção, eles são
repassados para a sociedade de uma forma geral”, disse a parlamentar à
Jovem Pan News Natal.
Segundo ela, a classe
produtiva está se organizando para verificar os impactos da medida. “Em
reuniões setoriais, os produtores ficaram de fazer os cálculos de quanto
pode impactar para cada segmento. Nós ainda não podemos dimensionar
qual vai ser a implicação financeira, porque há uma realidade diferente
para cada um. Nem o Governo tem noção desse impacto”, afirmou a
deputada.
O secretário Paulo Varella rebateu
que haja ausência de informações. “Os estudos que originaram a minuta
analisaram o poder pagador de cada setor. Apresentamos nossa tabela e
estamos pedindo que os produtores façam contribuições e críticas, porque
eles, melhor do que ninguém, conhecem os próprios impactos”, explicou o
titular. Questionado sobre quais seriam os reflexos apresentados pelos
estudos, o secretário disse preferir não revelar, uma vez que os valores
poderão sofrer alterações a partir da avaliação da cadeia produtiva.
Varella
esclareceu que cada setor solicitou um prazo diferente para apresentar
as informações próprias, mas ele estima que, em 120 dias, todas as
respostas sejam apresentadas à Semarh. “Alguns pediram 15 dias, outros
30, 90 e até 120 [dias] para nos responder sobre as implicações da
cobrança. Estamos abertos a negociações e correções e temos avançado
bastante com os setores”, detalhou o gestor.
A
lei que versa sobre a taxação (Lei Estadual nº 6.908) é de 1996 e, na
avaliação do secretário, já “deveria ter sido implementada há muito
tempo”. Segundo ele, as discussões em torno do tema se dão agora por
causa da demora para a composição de comitês de bacia, prerrogativa para
a cobrança. “Somente há cerca de dois anos é que esse assunto começou a
ser efetivamente discutido no âmbito dos comitês do Governo do Estado,
com apoio da Agência Nacional das Águas (ANA)”, falou.
O
secretário defende que os comitês são diversos e contemplam todos os
atores necessários para a discussão. Ele destaca que a medida é
necessária para racionalizar o uso do recurso hídrico. “Nos comitês, nós
temos uma ampla representação: governo, sociedade civil e também os
usuários”, afirma. A deputada Cristiane Dantas ressaltou que o tema deve
ser largamente discutido.
“Trouxemos o debate
justamente para isso, para me posicionar e também para chamar a atenção
dos colegas deputados, porque é algo que vai impactar na vida de todos.
Ainda haverá audiência pública em cidades como Mossoró, Currais Novos e
Caicó. Os municípios estão se mexendo e eu acho que é dessa forma que
tem que ser feito: conversando e discutindo com a sociedade e com os
setores produtivos”, defende a parlamentar.
PL quer impedir regulamentação por decreto
Um
Projeto de Lei (PL) da deputada Cristiane Dantas (SDD) quer impedir que
a regulamentação da cobrança seja feita através de decreto
governamental, como tem sido cogitado. Em vez disso, Cristiane propõe a
regulamentação através de um outro PL, permitindo que o tema seja
debatido e apreciado pelo Poder Legislativo do Estado.
“Entendo
que a melhor maneira é através de um projeto de lei, em que estejam
explícitos todos os detalhes de como ocorrerá essa cobrança, onde os
recursos serão aplicados, quem vai administrar e fiscalizar. E o melhor
lugar para isso acontecer é na Assembleia Legislativa, a Casa do Povo
desse Estado. Na terça-feira (27), terá uma reunião da CCJ [Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania da ALRN] e eu vou solicitar ao
presidente que a tramitação do PL seja regularizada”, indicou.
Segundo
Cristiane Dantas, a regulamentação por meio de decreto representaria
uma perda para a população, porque é “unilateral, onde apenas o governo
regulamenta da forma que acha que deve”. Por isso, afirma a parlamentar,
as discussão estão sendo levantadas. De acordo com a minuta do Governo
do Estado, a taxação da água bruta no Rio Grande do Norte varia entre R$
0,01 e R$ 0,45 por m³ de água.
O documento
indica que o uso do recurso pela indústria, por exemplo, teria uma
cobrança de R$ 0,45/m³ e R$ 0,42/m³ para água mineral e potável, as duas
maiores taxas. O setor de Serviços e Comércio teria uma taxa de R$
0,33/m³. Além disso, um artigo específico aponta para uma “tarifa de
contingência”, em que o Estado cobraria percentuais de 10% a 50% em
situações de escassez hídrica em cima dos valores já onerados.
O
secretário Paulo Varella, do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do RN
insiste que os impactos para os setores produtivos serão mínimos. “Quase
88% das pessoas do campo estão isentas. Um exemplo é a agricultura
familiar, o pequeno agricultor com até 10 hectares irrigados, bem como
quem tem poço em zona rural ou retira água de pequenos açudes (até 120
mil litros por dia). Então, o impacto é muito pequeno. O que se quer é
cumprir a lei”, sublinha.
As informações do
setor produtivo serão reunidas pela Federação de Agricultura e Pecuária
do RN (Faern) para um relatório que será entregue à Semarh. O presidente
da Federação, José Vieira, voltou a declarar o quanto a possibilidade
de cobrança preocupa a cadeia produtiva do Rio Grande do Norte. “A todo
momento o Governo diz que não vai ter impacto, que não vai causar nenhum
problema, mas é uma situação que preocupa, porque não sabemos até onde
isso vai”, disse.
O presidente da Faern
comentou que está aberto ao diálogo e afirmou haver pontos da Lei com o
qual ele discorda. "A Federação é, de antemão, contra qualquer taxa que
possa onerar o setor produtivo do Estado. Não concordamos com a cobrança
de até 50% no período da seca, por exemplo. Vamos conversar
tecnicamente a partir das informações e legislações existentes em
outros estados para poder ter o menor impacto possível por aqui”,
frisou.
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