
Foto: Carlos Moura
Presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), a ministra Rosa Weber
criticou a falta de mulheres na corte nesta quinta-feira (1º), dia em
que o presidente Lula (PT) anunciou ter escolhido seu advogado,
Cristiano Zanin, para preencher uma vaga no tribunal.
As
declarações de Rosa ocorreram durante reunião no Supremo com o
presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, que realiza visita oficial ao
Brasil.
Rosa
abordou o tema ao perguntar ao finlandês como era a representação de
mulheres no Judiciário do país. Disse que ela era a primeira magistrada
de carreira no STF. Afirmou ainda que o número de mulheres nos tribunais
superiores é ínfimo.
“Aqui no
Brasil nós temos muitas mulheres na base da magistratura, na Justiça em
primeiro grau, mas o número decresce no intermediário. Na cúpula, nos
tribunais superiores, o número é ínfimo”, disse Rosa.
Entre os 10
atuais ministros, apenas Rosa e Cármen Lúcia são mulheres. Além das
duas, o STF teve apenas outra mulher entre seus integrantes: Ellen
Gracie, que foi citada pela ministra no encontro.
O
presidente da Finlândia disse que era muito interessante o fenômeno que
Rosa acabara de dizer e que, em seu país, nos anos 1980, quando ele
mesmo ingressou para a carreira da magistratura, entravam muitas
mulheres jovens e que agora a Finlândia tem mulheres “em todos os
níveis”.
Até o horário da reunião com o finlandês, Rosa ainda não havia se manifestado sobre a indicação de Zanin.
A
interlocutores Rosa também lamentou a escolha de dois homens para
integrar o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) por Lula. A ministra avalia
que as duas mulheres que estavam na lista elaborada pelo STF, as
advogadas Daniela Borges e Edilene Lôbo, eram “ótimos quadros”. Daniela é
presidente da seccional da OAB na Bahia e Edilene Lobo é de Minas
Gerais e já advogou para o PT.
O advogado
Floriano de Azevedo Marques e o ministro substituto André Ramos Tavares
tomaram posse na corte eleitoral na terça (30). Eles são próximos ao
presidente do TSE, o ministro Alexandre de Moraes. Rosa também tem dito
que espera que uma mulher a suceda quando ela deixar a corte, em outubro
deste ano.
Durante o
encontro com o presidente finlandês, a ministra falou que houve uma
invasão criminosa na corte, referindo-se aos ataques de 8 de janeiro.
Ela afirmou que o tribunal foi reconstruído, mas que nem todos os bens
materiais foram recuperados.
“Mas já
houve condições de recebê-lo aqui e isso nos dá uma imensa alegria. O
importante é que nossa democracia permanece inabalável e o nosso Estado
democrático de Direito saiu fortalecido, com união de todos os poderes”,
afirmou.
Mais cedo,
Lula confirmou a indicação de Zanin para o Supremo. “Eu acho que todo
mundo esperava que eu fosse indicar o Zanin não só pelo papel que teve
na minha defesa, mas simplesmente porque eu acho que Zanin se
transformará num grande ministro da Suprema Corte desse país”, disse o
presidente.
E
prosseguiu: “Conheço as qualidades como advogado, conheço as qualidades
dele como chefe de família e conheço a formação dele. Ele será um
excepcional ministro do STF se aprovado pelo Senado e acredito que será e
acho que o Brasil vai se orgulhar de ter o Zanin como ministro da
Suprema Corte.”
Lula havia
se encontrado com o advogado na noite desta quarta-feira (31), no
Palácio do Planalto, e avisou autoridades, como o presidente do Senado,
Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que anunciaria a escolha para a vaga.
Paulista de
47 anos, Zanin tornou-se advogado de Lula em 2013 e ficou conhecido por
defender o petista nos processos da Lava Jato.
Caso
aprovado pelo Senado, Zanin assumirá a cadeira deixada por Ricardo
Lewandowski, que completou a idade limite para atuar na corte em 11 de
maio, mas antecipou a aposentadoria para abril.
Em quase 40
anos de redemocratização no Brasil, a cúpula da República contou com 66
homens e só 4 mulheres —uma proporção de 16,5 para 1— e continua até
hoje comandada majoritariamente por representantes do sexo masculino.
Nesse
período, apenas Dilma Rousseff (PT) foi eleita presidente da República,
enquanto sete homens passaram pelo comando do Poder Executivo. A petista
ainda acabou sendo destituída do cargo em 2016, após sofrer um processo
de impeachment mais de dois anos antes do fim de seu segundo mandato.
O
Legislativo nunca teve desde a redemocratização uma mulher como
presidente da Câmara dos Deputados ou do Senado —foram 18 e 15 ocupantes
do posto, respectivamente, nesse período, todos homens.
Folha de São Paulo
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