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Para muitas mulheres adultas, a gravidez é planejada e as fases da
gestação são rodeadas pela ansiedade do nascimento do bebê. Quando a
gravidez ocorre na adolescência, o gestar se torna algo preocupante e
incerto. Por dia, nascem cerca de mil bebês filhos de mães adolescentes,
no Brasil, e uma pesquisa revelou que 20% delas afirmaram não saber
como evitar filhos e a mesma fração volta a engravidar antes de atingir a
maioridade.
“Os resultados que alcançamos com o estudo demonstram uma premissa
simples: precisamos falar mais sobre gravidez na adolescência ainda em
2023/2024 e olhar para as mães adolescentes. Hoje temos o dobro dos
nascidos vivos destas jovens em comparação a países desenvolvidos”,
destaca o pediatra Tiago Dalcin, líder do projeto Adolescentes Mães do
Hospital Moinhos de Vento.
Entre
agosto de 2022 e maio de 2023, as vozes de 1.177 mulheres de cinco
regiões do país foram ouvidas pelo Projeto Adolescentes Mães, que é
liderado pelo Hospital Moinhos de Vento por meio do Programa de Apoio ao
Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS) do
Ministério da Saúde. O estudo foi publicado em dezembro, com o objetivo
de avaliar o perfil biopsicossocial de mães adultas e adolescentes.
A
partir de hospitais selecionados, mães adolescentes e jovens foram
recrutadas. Durante dez meses, a equipe do projeto foi in loco para
realizar entrevistas com 1.177 mães, divididas em duas categorias:
adolescentes de 10 a 19 anos de idade (49,5%) e adultas de 20 a 29 anos
(50,4%). Das mães adolescentes, 2,12% são meninas que foram mães entre
10 e 14 anos.
A
média de idade de participação das adolescentes no estudo é de 17 anos,
enquanto a de adultas é de 24. A maioria das participantes se considera
parda e há uma prevalência de mães solteiras: cerca de 88,5% entre as
adolescentes, e 73,7% entre as adultas.
A
maioria das adolescentes e das adultas têm Ensino Médio incompleto e
estão desempregadas. O levantamento ainda revelou que 67% das mães
adolescentes não estudavam quando o filho nasceu e 79% não estudavam no
momento da entrevista. Para a maioria das meninas-mães, uma das
principais consequências da maternidade foi o abandono do estudo.
“A
gente teve o cuidado de entrar na trajetória de vida de cada menina e
mulher durante o projeto”, explica a enfermeira e pesquisadora, Daniela
Guaranha, em comunicado
Relações sexuais cedo
A
pesquisa mostrou que a idade média da primeira relação sexual das mães
adolescentes foi de 14 anos, com a primeira gestação aos 16. A idade dos
pais dos filhos de mães adolescentes é, em média, de 22 anos. Já entre
as mães adultas, a primeira relação foi por volta dos 16 anos, com a
primeira gravidez aos 22. Os pais têm, em geral, 29 anos.
Um
quarto das mães adolescentes entrevistadas foi abandonada pelo cônjuge
ao descobrir a gravidez e 10% não manteve vínculo com o pai do filho.
Entre as adultas, isso aconteceu com 15,4%, e 4,3% não manteve contato
com o pai.
Para
58% das mães adultas, a gestação ocorreu por elas quererem ser mães.
Para as adolescentes, 64,4% afirma ter engravidado sem querer. Delas,
20,4% disseram ainda não saber como evitar filhos.
Falta de informação
A
maioria das adolescentes classificou as informações sobre sexualidade
que obtiveram como ausentes e confusas. Menos da metade das
entrevistadas era bem informada antes de engravidar, e a principal fonte
era de familiares. Pouco mais da metade das mães adolescentes (55,4%)
fazia uso de anticoncepção antes da gestação.
Para Carmem de Souza, pedagoga e consultora técnica do projeto, falar de educação no meio da saúde é um desafio.
“Quando
fazemos uma pesquisa não queremos que ela fique apenas na seara
científica, queremos que todos tenham acesso. Não foi fácil para as
meninas falarem, não foi simples conseguir o aceite. Elas estão
aprendendo a ser mães ainda jovens, ainda meninas, é uma realidade doída
que tentamos traduzir de uma forma branda e emocionante”.
Impactos sociais, emocionais e econômicos
A
mudança impactou também a vida social das meninas: 65% consideram a
vida mais difícil, 58% perderam amigos após a gestação e 17% consideram
que a gestação foi o pior período da vida. Cerca de 8,8% das
adolescentes não tiveram o apoio da família na descoberta da gravidez e
25% foi abandonada pelo parceiro.
Também
foi realizado um questionário com 21 perguntas relacionadas à
intensidade de sintomas e situações experienciadas pelas entrevistadas,
em um período de sete dias. Os resultados mostraram que 61,9% das
adolescentes tem depressão, 63,8% apresenta ansiedade e 55,7%
experiência o estresse. A cada dez adolescentes diagnosticadas, apenas
quatro faziam acompanhamento. Em relação às adultas, 50,5% está
deprimida, 51,6% ansiosa e 49,1% estressada.
Além
dos impactos emocionais e sociais, o estudo identificou que o impacto
econômico da gestação na adolescência é de mais de R$ 1,2 bilhões,
recursos que poderiam ser realocados em estratégias para prevenção de
gestação nesta faixa etária.
O Globo
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