Estrada Salah al-Din ficará aberta para centenas de milhares de civis até o meio-dia da próxima sexta-feira (19); locais designados por Tel Aviv como "zona humanitária" não são seguros, de acordo com autoridades palestinas e da ONU
© <p>Getty Images</p>
Um dia após iniciar uma ofensiva terrestre contra a Cidade de
Gaza, o Exército de Israel afirmou, nesta quarta-feira (17), que estava abrindo
uma nova rota temporária para que os moradores fujam da capital do território
palestino.
De acordo com panfletos lançados sobre a cidade, a estrada Salah
al-Din, que atravessa o centro da Faixa de Gaza de norte a sul, ficará aberta
por 48 horas a partir do meio-dia desta quinta (6h no Brasil) -até agora, o
Exército havia incentivado os moradores a abandonar a cidade por uma estrada
costeira em direção ao que chama de "zona humanitária", mais ao sul.
"O movimento deve ocorrer apenas pelas ruas marcadas em
amarelo no mapa como a rota para o trânsito em direção ao sul. Siga as
instruções das forças de segurança e sinais de trânsito", diziam os
comunicados. No entanto, a situação permaneceu caótica e perigosa para os
civis, que nos últimos dias têm fugido a pé, em carroças puxadas por burros ou
em veículos nos últimos dias.
Grande parte da Cidade de Gaza foi destruída no início da guerra
em 2023, mas cerca de 1 milhão de palestinos haviam retornado para casas entre
as ruínas durante o cessar-fogo de janeiro. Forçá-los a sair significaria
confinar a maior parte da população de Gaza, que já era um dos territórios mais
densamente povoados do mundo antes da guerra, em acampamentos superlotados no
sul, onde a fome se intensifica.
Mesmo esse local, designado por Israel como "zona
humanitária", não é seguro, de acordo com autoridades palestinas e da ONU.
Na terça (16), um ataque aéreo matou cinco pessoas em um veículo que deixava a
Cidade de Gaza em direção ao sul. Já no campo de refugiados de Nuseirat, no
centro do território, um ataque aéreo destruiu um edifício nesta quarta,
levando moradores das proximidades a fugir em pânico.
As condições desencorajam as centenas de milhares de pessoas a
deixarem suas casas. "Mesmo se quisermos deixar a Cidade de Gaza, há
alguma garantia de que poderemos voltar? A guerra vai acabar algum dia? É por
isso que prefiro morrer aqui, em Sabra, meu bairro", disse à agência de
notícias Reuters o professor Ahmed, por exemplo
Até agora, Israel controla subúrbios no leste da Cidade de Gaza
e está bombardeando três áreas no sudeste, no norte e nas áreas costeiras do
noroeste da cidade. De acordo com o Exército do Estado judeu, mais de 150 alvos
foram atacados na cidade desde o início da ofensiva terrestre.
"Gaza está sendo exterminada. Uma cidade que tem milhares
de anos está sendo exterminada diante de todo o mundo covarde", disse Ahmed.
Segundo o gabinete de mídia do Hamas, Israel destruiu ou
danificou 1.600 edifícios residenciais desde o dia 10 de agosto, quando o
primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, anunciou a intenção de Israel
de assumir o controle total do local. Tel Aviv também teria destruído 13 mil
tendas na Cidade de Gaza onde pessoas deslocadas estavam abrigadas.
Israel, que diz buscar entre 2.000 e 3.000 "terroristas do
Hamas" na Cidade de Gaza, estima que 40% dos moradores deixaram a
localidade. O escritório de mídia de Gaza, controlado pela facção, diz que 190
mil se dirigiram para o sul e 350 mil se mudaram para áreas centrais e
ocidentais da cidade.
Uma autoridade israelense disse à Reuters que cerca de 100 mil
civis poderiam permanecer na cidade e que a operação poderia ser suspensa se um
cessar-fogo fosse alcançado -uma possibilidade remota depois que Israel matou
cinco líderes políticos do grupo e um agente de segurança qatari em Doha, na
semana passada, enfurecendo o país que é um dos mediadores nas negociações.
Em visita ao Qatar nesta terça, o secretário de Estado dos EUA,
Marco Rubio, disse que havia "uma janela de tempo muito curta" na
qual uma trégua poderia ser alcançada.
Segundo autoridades de saúde do território, controlado pelo
Hamas, pelo menos 30 pessoas foram mortas por Israel em toda a Faixa de Gaza
nesta quarta, um dia depois de uma comissão internacional independente de
investigação da ONU afirmar que o Estado judeu comete um genocídio em Gaza
-acusação que Tel Aviv nega.
Desde outubro de 2023, quando o Hamas matou mais de 1.200
pessoas em Israel e fez 251 reféns, quase 65 mil palestinos foram mortos, de
acordo com os números divulgados pelo Ministério da Saúde local, que a ONU
considera confiáveis. As restrições impostas por Tel Aviv em Gaza impedem que a
imprensa internacional verifique de forma independente os números divulgados
pelas duas partes.
Nesta quarta, o papa Leão 14 expressou solidariedade com os
moradores de Gaza, "mais uma vez" deslocados de maneira forçada.
"Renovo meu apelo por um cessar-fogo, a libertação dos reféns, uma solução
diplomática negociada e o pleno respeito ao direito humanitário
internacional", enfatizou o pontífice.
FOLHAPRESS
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