
Transportadoras já aplicam para novos contratos preços atualizados,
considerando a última alta do diesel, que representa 40% do custo
O anúncio de reajuste no preço do diesel anunciado pela Petrobras na
última semana tem causado preocupação em entidades e dirigentes do setor
de serviços e produtos, que têm que reajustar também o frete para
compensar os gastos com combustível. De acordo com uma pesquisa
realizada pela Fretebras — uma plataforma de transporte rodoviário de
cargas —, o preço do diesel no Rio Grande do Norte teve um aumento de
4,55% entre abril e maio, enquanto o valor médio dos fretes subiu 8,24%.
Já entre maio de 2021 e maio de 2022, o diesel teve aumento de 47,51%,
mas o preço dos fretes teve queda de 12,56%. Para a plataforma, o preço
do frete rodoviário ainda não acompanha o crescimento nos preços do
diesel.
O preço do litro do diesel vendido às distribuidoras teve um
reajsute de 14,26%. Passou de R$ 4,91 para R$ 5,61, em anúncio feito na
sexta-feira (17) nas refinarias da Petrobras. Por isso, trouxe reflexo
nos fretes. No Brasil, entre abril e maio de 2022, o aumento do preço do
frete foi de apenas 0,98%, enquanto o preço do diesel subiu 3,67%. Os
dados da Fretebras mostram ainda que o valor médio do frete por
quilômetro por eixo no país foi de R$ 1,02, em maio. No Nordeste, o
frete custava R$ 0,99.
Para José Neto, gerente
do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Estado
do Rio Grande do Norte (SETCERN), “houve um impacto muito grande”, e os
reajustes nos fretes já estão sendo repassados ao consumidor. “A gente
teve que repassar. Agora, os contratos que já estavam fechados, acaba
saindo no prejuízo. Mas para os novos fretes está tendo que repassar.
Não tem como as empresas se manterem sem que repasse esse aumento”, diz.
Segundo
ele, as empresas vêm sofrendo. “Você fechou um contrato hoje e amanhã o
preço do combustível já é outro. Com isso vem aumentando também a
inflação. E tem outros insumos, de pneus, além de manutenção dos
veículos. É complicado”, afirma. De acordo com Neto, hoje o óleo diesel
corresponde a cerca de 40% dos custos das transportadoras.
O
gerente diz que as empresas têm se articulado para evitar prejuízos,
que afetam o preço do frete. Uma das medidas buscadas pelo setor foi com
o projeto que limita o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) sobre combustíveis. Na última quarta-feira (15), a
Câmara dos Deputados proibiu estados de cobrarem taxa superior à
alíquota geral de ICMS, que varia de 17% a 18%, dependendo da
localidade. Esse projeto foi sancionado na sexta-feria (24) pelo
presidente Jair Bolsonaro. “Só que na última sexta-feira (17) houve um
aumento de 14,26%, e acaba que a conta não fecha”, lamenta José Neto.
Felipe
Dantas é um dos proprietários de uma transportadora localizada em
Parnamirim-RN e vê os reajustes dos fretes como “a parte mais difícil”.
Como as negociações são feitas sob contrato, no caso da sua empresa os
valores anotados precisam ser conversados mais uma vez. “O cliente não
aceita, e a transportadora tem dificuldade de fazer esse reajuste. E
quando você termina de negociar um ajuste depois de tanto debater junto
com o seu cliente, vem mais um desse [reajuste] como aconteceu
sexta-feira. Aí reabre toda a negociação, ou seja, está um transtorno
para todos”, se queixa.
O desânimo é percebido
entre os próprios caminhoneiros. Na pesquisa da Fretebras, que realizou
uma enquete com mais de 1.300 motoristas, 44,8% dos participantes dizem
que consideram deixar a profissão em breve, após nova alta no
combustível. Mais da metade (54,9%) são favoráveis a participar de uma
greve nos próximos três meses.
Carlos Barbosa,
presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de
Bens do Rio Grande do Norte (Sindicam-RN), sente as dificuldades por
trabalhar por conta própria. “Quando o Governo ou a Petrobras repassa o
aumento do combustível, nós que somos autônomos temos que repassar o
frete também para os clientes. E tem cliente que acha ruim, não gosta”,
afirma.
De acordo com o diretor de Operações da
Fretebras, Bruno Hacad, os preços dependem dos próprios motoristas,
através da lei da oferta e da demanda. “Se os caminhoneiros não
aceitarem mais viajar a um preço que não compensa, naturalmente o valor
do frete vai aumentar. Está nas mãos dos próprios caminhoneiros a força
para influenciar o preço no curto prazo, mas para isso eles precisam
saber calcular bem os custos do trajeto”, explica.
Agronegócio puxa lista de fretes com preços mais altos
Na
variação anual, os fretes para produtos industrializados registraram
aumento de 4,17%. Os dados são da Fretebras, uma plataforma de
transporte rodoviário de cargas. Entre os setores, o agronegócio puxa a
lista dos fretes mais altos. Nesta área, o aumento foi de 3,92%. Já os
fretes de insumos para construção subiram 1,31% em comparação com maio
de 2021.
Enviar produtos ou recebê-los no Estado tem ficado mais caro
Enquanto os empresários tentam
resolver o quebra-cabeças do deslocamento, alguns setores enfrentam mais
problemas pelo tipo de produto, já que o valor do frete depende do que
está sendo transportado. No índice da Fretebras, os fretes para o
agronegócio foram fixados em R$ 1,03 por km rodado por eixo. Logo em
seguida aparecem os fretes de produtos industrializados, que chegaram ao
valor médio de R$ 1,02. Na terceira colocação, há os fretes de insumos
para construção, que ficaram em R$ 1,01 por km rodado por eixo.
Quando
comparados os dados de abril a maio de 2022, o setor de construção
civil teve aumento de 2,29%. Os fretes de produtos industrializados
registraram alta de 1,13%. Já no agronegócio houve queda de 0,04% no
valor do frete.
Para Marcelo Rosado, diretor da
Federação das Indústrias do Rio Grande do Norte (Fiern), “as indústrias
sentem [o aumento do frete]”. Segundo ele, são diversas variáveis que
influenciam o preço do deslocamento, como os tipos CIF e FOB.
No
modelo CIF, a indústria é a responsável pelo pagamento do frete e
absorve esse custo para enviar o produto. Já no tipo FOB, é o cliente
quem realiza o pagamento. “As duas formas estão sendo impactadas. A
indústria, que já vem de um processo onde os insumos vem subindo muito,
não tem conseguido repassar isso pro consumidor e isso está de alguma
forma tendo que ser tirado da sua margem, da melhoria de assistência do
processo”, observa.
Mas as despesas, para
Rosado, têm um limite. “Você não consegue absorver totalmente. E alguns
deles [empresários] já vinham absorvendo grande parte desses aumentos,
porque ele não conseguia repassar senão caía as vendas”, afirma. “Já com
o motorista a situação é pior, porque o caminhoneiro não tem margem
para absorver. Então de alguma forma isso vai ser repassado para o
consumidor”, acrescenta o diretor.
Na visão de
Marcelo Rosado, os perecíveis custam mais ao bolso do transportador. “No
agronegócio, você vai carregar a granel, como por exemplo a soja e o
milho. Dependendo de quanto esse produto seja mais delicado, mais caro
se torna esse frete”, afirma. Nas frutas e demais produtos em que
precisa de refrigeração, é necessário utilizar um contêiner, para
garantir que o chegue preservado ao destino final. “Vai se tornando mais
caro ainda. E aí você imagina no refrigerado em que o caminhão não pode
estar desligado. Mesmo que ele esteja à noite parado, tem que estar
funcionando para gerar uma temperatura em que o fruto seja conservado”,
diz.
Aumento do frete impacta no preço dos produtos
Gilvan
Mikelyson, da Associação dos Supermercados do Rio Grande do Norte
(Assurn), reconhece o impacto do aumento dos combustíveis no preço do
frete e também dos produtos. Para ele, o aumento dos valores de
deslocamento não é temor, “já está acontecendo”.
“Nosso
transporte é basicamente rodoviário. O Rio Grande do Norte é distante
das áreas produtivas, temos poucas indústrias aqui. Então as indústrias,
para enviarem os produtos para cá, tem a distância e tem o frete.
Quando aumenta o combustível, automaticamente é recalculado o frete,
[onde] é repassado um percentual desse aumento para o preço final dos
produtos”, afirma o empresário.
Além do frete,
os supermercadistas enfrentam ainda a inflação. “Nós estamos com essa
distância a ser vencida, acrescida a uma situação tributária também
desfavorável. Nós temos uma das condições tributárias mais caras do
país, então tudo agrega para o preço do produto”, justifica.
Com
a situação desfavorável, diz o empresário, o setor não consegue
repassar todos os aumentos para os usuários, sob risco de perder
clientes. “A gente entende que se repassar tudo que recebe de mudança de
tabela de preços, vamos causar uma quebra no consumo. O consumidor vai
se sentir violado e não vai comprar”, observa.
“Ele
já se sente numa situação muito difícil, mas ainda consome, encontra
alternativas. Se a gente repassasse tudo que recebe de alteração, a
situação seria muito pior e o consumo poderia ter uma queda ainda maior
do que já teve”, afirma.
Mudança de hábitos
Por
isso, ele vê uma mudança nos hábitos de consumo. O consumidor que
adquiria o produto mais caro, compra agora o intermediário. Quem
consumia o intermediário, consome o de baixo preço. Outra alternativa,
segundo ele, tem sido o aproveitamento dos dias de oferta.
“De
forma interna, tem sido muito difícil para o setor comercial dos
supermercados negociar melhor, ter um planejamento. A gente não consegue
mais planejar e mensurar os gastos comerciais nem se programar com as
questões de preço. Constantemente somos surpreendidos, da mesma forma
que os clientes. A gente às vezes deixa de fazer uma negociação,
pensando que daqui a 15 dias vai estar melhor, que o mercado vai se
regularizar, e a situação que era ruim se torna pior”, se queix o
empresário.
Tribuna do Norte
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